— A toada do nosso caxambu é diferente, muito diferente de lá, muito diferente. Justamente quase nenhum lugar que tem caxambu, ninguém canta igual eu canto.

Ninguém Canta Igual Eu Canto

Comunidade Quilombola de Monte Alegre

Cachoeiro de Itapemirim - ES

— Pra lá que fui, lá pra África. Eles lá, pareciam que era todo mundo de casa. Tinha gente lá que eu pensava até ser parente meu.

— Esse negócio aqui é o que mais a gente produz aqui, trabalha mais com isto aqui na roça. Essa matéria aqui, café. Se chama-se café.

— No dia dois de novembro, que é Dia de Finados, o pessoal fazia era uma festa lá no cemitério. Reunia lá os nossos avôs, bisavôs, etc, e o pessoal fazia uma festa lá para poder trazer memórias destas pessoas mais velhas que se foram.

— Pra ter uma ideia até chovendo o pessoal dança, ao invés de dançar dentro do bar, o pessoal dança na chuva, do lado de fora. Você acredita nisso. Dança na chuva.

Oficina - Monte Alegre, 20 a 22 de Junho de 2022

— Desde quando você saiu daqui mudou pouca coisa. O que muda é a gente.

— Não largo meu lugar, não. Não abando. Viajo muito mas sempre tô aqui. Meu coração tá aqui dentro. Minha terra é aqui.

Os Projetos Cine Quilombola e Cinema de Griô nascem a partir do desejo de estabelecer uma correspondência entre comunidades quilombolas por meio do cinema.

Esse desejo toma a forma de oficinas de cinema em quilombos do Espírito Santo que realizam curtas-metragens e produzem sessões públicas de exibição desses filmes nas comunidades em que foram feitos.

Em cada quilombo se formou um pequeno grupo, que durante três ou quatro dias trabalhou junto a nossa equipe para captar as imagens e sons que vão dar origem aos filmes.

Os filmes não partem de um roteiro prévio, mas de exercícios de criação propostos por nós, que podem ser a escrita de cartas, a contação de sonhos, etc… A partir do que cada pessoa traz de história, de memória, de invenção nasce o rumo do filme.

A figura de um diretor é dissolvida, existe um investimento e uma crença nesse modo comunitário de tomar as decisões, de exercitar a criação.

A metodologia parte de alguns princípios que têm origem no projeto Revelando os Brasis e na Pedagogia do Dispositivo. “Qualquer pessoa é capaz de contar a sua própria história através do cinema” a partir de uma tecnologia que dispara processos criativos desviando da ideia da produção de imagens como representação. Na lateralidade da troca de saberes entre uma equipe de cinema e moradores de uma comunidade quilombola, construímos um filme.