— A toada do nosso caxambu é diferente, muito diferente de lá, muito diferente. Justamente quase nenhum lugar que tem caxambu, ninguém canta igual eu canto.
— Pra lá que fui, lá pra África. Eles lá, pareciam que era todo mundo de casa. Tinha gente lá que eu pensava até ser parente meu.
— Esse negócio aqui é o que mais a gente produz aqui, trabalha mais com isto aqui na roça. Essa matéria aqui, café. Se chama-se café.
— No dia dois de novembro, que é Dia de Finados, o pessoal fazia era uma festa lá no cemitério. Reunia lá os nossos avôs, bisavôs, etc, e o pessoal fazia uma festa lá para poder trazer memórias destas pessoas mais velhas que se foram.
— Pra ter uma ideia até chovendo o pessoal dança, ao invés de dançar dentro do bar, o pessoal dança na chuva, do lado de fora. Você acredita nisso. Dança na chuva.
— Desde quando você saiu daqui mudou pouca coisa. O que muda é a gente.
— Não largo meu lugar, não. Não abando. Viajo muito mas sempre tô aqui. Meu coração tá aqui dentro. Minha terra é aqui.
Os Projetos Cine Quilombola e Cinema de Griô nascem a partir do desejo de estabelecer uma correspondência entre comunidades quilombolas por meio do cinema.
Esse desejo toma a forma de oficinas de cinema em quilombos do Espírito Santo que realizam curtas-metragens e produzem sessões públicas de exibição desses filmes nas comunidades em que foram feitos.
Em cada quilombo se formou um pequeno grupo, que durante três ou quatro dias trabalhou junto a nossa equipe para captar as imagens e sons que vão dar origem aos filmes.
Os filmes não partem de um roteiro prévio, mas de exercícios de criação propostos por nós, que podem ser a escrita de cartas, a contação de sonhos, etc… A partir do que cada pessoa traz de história, de memória, de invenção nasce o rumo do filme.
A figura de um diretor é dissolvida, existe um investimento e uma crença nesse modo comunitário de tomar as decisões, de exercitar a criação.
A metodologia parte de alguns princípios que têm origem no projeto Revelando os Brasis e na Pedagogia do Dispositivo. “Qualquer pessoa é capaz de contar a sua própria história através do cinema” a partir de uma tecnologia que dispara processos criativos desviando da ideia da produção de imagens como representação. Na lateralidade da troca de saberes entre uma equipe de cinema e moradores de uma comunidade quilombola, construímos um filme.