O Instituto Marlin Azul apresenta
Duas matriarcas da comunidade quilombola do Linharinho (Conceição da Barra/ES) através do improviso de suas netas. Cristina Pereira vive a saudosa Deolinda e jovem Juliana Gomes relembra Maria José de Jesus Gomes.
O mergulho até o inconsciente dos sonhos trouxe histórias relacionadas aos perigos da vida e da morte ao lado de questões ligadas à realidade social como a luta pelo reconhecimento e a titularização do território.
Moradoras da comunidade quilombola do Linharinho cuidam de seus quintais enquanto contam da vida naquele lugar. É preciso resistir à invasão dos eucaliptos. Cuidar da terra e reaprender uma dança antiga são formas de lutar.
Alguns pescam, outros cantam, uns lideram a roda do Jongo de Santa Ana e outros o Jongo de São Bartolomeu, tem também aqueles que criam as embaixadas do Ticumbi de São Benedito. E todos contam histórias. No forró, os grupos se encontram.
Um grupo de adolescentes escreve cartas para duas matriarcas da comunidade. As correspondências nos contam dos embates e das alegrias vividas ali. Por um instante, o cinema participa da brincadeira das crianças.
Uma rodovia corta a área de uma comunidade ao meio. É preciso atravessar a estrada para conhecer o outro lado. Filme realizado a partir de uma oficina de cinema na Comunidade Quilombola da Graúna, em Itapemirim/ES.
No meio da ventania, um grupo de crianças inventa a história de um lugar. Filme realizado a partir de uma oficina de cinema nos quilombos de Cacimbinha e Boa Esperança, em Presidente Kennedy/ES.
Alguma coisa se transforma quando um grupo aprende a cantar sua história. Escrever cartas ali se parece com dançar. Filme realizado a partir de uma oficina de cinema no quilombo de Pedra Branca, em Vargem Alta/ES.
Durante o dia, colher o café, lavar a roupa no rio, cuidar do rebanho. Durante a noite, tirar os sapatos, acender a fogueira e dançar caxambu.
Parteira e coveira desde os 12 anos, Maria Laurinda é também benzedeira, mãe de santo e mestra do Caxambu Santa Cruz; uma verdadeira rainha da Comunidade Quilombola de Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim/ES.
Parteira e coveira desde os 12 anos, Maria Laurinda é também benzedeira, mãe de santo e mestra do Caxambu Santa Cruz; uma verdadeira rainha da Comunidade Quilombola de Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim/ES.
— Eu nasci aqui, meu pai nasceu aqui e minha mãe nasceu aqui. Todo mundo nasceu aqui. Esses morros eram tudo canavial, então nossos pais cortavam cana, a gente subia lá pra cima com pranchão para vir descer chiando na palha da cana que a gente secava.
— Eu sinto que eu tenho sangue do quilombo, graças a Deus. Eu tenho o sangue deles. Meus bisavós, meus tataravós, mas até agora eu não sei o que vem a ser o quilombo mesmo de verdade.
— Minha mãe me diz que o nome da nossa comunidade vem de um pássaro. Ele é tipo um corvo mas ele é bem pequenininho.
— Antigamente não existia muitas fontes de água. Então, eles faziam grande buracos que se chamavam cacimbas. Eu ouvi de uma amiga que foi o avô dela que batizou esse nome.
Os Projetos Cine Quilombola e Cinema de Griô nascem a partir do desejo de estabelecer uma correspondência entre comunidades quilombolas por meio do cinema.
Esse desejo toma a forma de oficinas de cinema em quilombos do Espírito Santo que realizam curtas-metragens e produzem sessões públicas de exibição desses filmes nas comunidades em que foram feitos.
Em cada quilombo se formou um pequeno grupo, que durante três ou quatro dias trabalhou junto a nossa equipe para captar as imagens e sons que vão dar origem aos filmes.
Os filmes não partem de um roteiro prévio, mas de exercícios de criação propostos por nós, que podem ser a escrita de cartas, a contação de sonhos, etc… A partir do que cada pessoa traz de história, de memória, de invenção nasce o rumo do filme.
A figura de um diretor é dissolvida, existe um investimento e uma crença nesse modo comunitário de tomar as decisões, de exercitar a criação.
A metodologia parte de alguns princípios que têm origem no projeto Revelando os Brasis e na Pedagogia do Dispositivo. “Qualquer pessoa é capaz de contar a sua própria história através do cinema” a partir de uma tecnologia que dispara processos criativos desviando da ideia da produção de imagens como representação. Na lateralidade da troca de saberes entre uma equipe de cinema e moradores de uma comunidade quilombola, construímos um filme.