— Antes era aquele tanto de casinha aqui em volta, hoje o eucalipto e a cana tomaram o lugar.
Meu santo preferido, Bom Jesus da Lapa,
Desde pequena te tenho como meu santo de devoção, está chegando o seu mês, no dia 06 de agosto estamos planejando uma ladainha em seu nome.
— Eu trabalho na roça. Trabalho de enxada. Aqui tem roça, lugar pra andar e biju pra fazer.
Tem que roçá, ará, plantá, colhê.
Demoro mais de um mês pra colher.
A gente rala a mandioca e aí tem o forno. Pra fazer o biju boto coco. A gente também faz dendê, sei extrair.
— Antes criava jegue, cavalo e burro.
Gosto mais de trabalhar na roça. Animal dá mais trabalho.
— Vó, nunca te conheci mas minha mãe me fala que a senhora é uma bela pessoa. Minha mãe sente muita saudade. Fizeram uma biblioteca em homenagem a senhora na comunidade com o nome: Yayá Luzia.
— A coisa mais linda que eu lembro é que no seu dia, depois que passa a missa e a ladainha, tinha o reis de boi e a dança de fita de pedro geraldino.
— Tinha muita gente aqui na comunidade e hoje pra contar tem só umas 38 a 40 famílias.
— Meu bom jesus, peço sua bênção, que a gente seja digno de merecer mais um tempo de vida.
Que deus nos abençoe.
Os Projetos Cine Quilombola e Cinema de Griô nascem a partir do desejo de estabelecer uma correspondência entre comunidades quilombolas por meio do cinema.
Esse desejo toma a forma de oficinas de cinema em quilombos do Espírito Santo que realizam curtas-metragens e produzem sessões públicas de exibição desses filmes nas comunidades em que foram feitos.
Em cada quilombo se formou um pequeno grupo, que durante três ou quatro dias trabalhou junto a nossa equipe para captar as imagens e sons que vão dar origem aos filmes.
Os filmes não partem de um roteiro prévio, mas de exercícios de criação propostos por nós, que podem ser a escrita de cartas, a contação de sonhos, etc… A partir do que cada pessoa traz de história, de memória, de invenção nasce o rumo do filme.
A figura de um diretor é dissolvida, existe um investimento e uma crença nesse modo comunitário de tomar as decisões, de exercitar a criação.
A metodologia parte de alguns princípios que têm origem no projeto Revelando os Brasis e na Pedagogia do Dispositivo. “Qualquer pessoa é capaz de contar a sua própria história através do cinema” a partir de uma tecnologia que dispara processos criativos desviando da ideia da produção de imagens como representação. Na lateralidade da troca de saberes entre uma equipe de cinema e moradores de uma comunidade quilombola, construímos um filme.