A websérie enaltece a obra, a história e a memória de duas compositoras capixabas que atuaram no ensino, na criação, produção e difusão da música erudita no estado do Espírito Santo e no país. Lycia De Biase Bidart (1910 – 1991) e Terezinha Dora Abreu de Carvalho (1936 – 2017) ocuparam espaços raros às mulheres na sua época, como regência e composição.
Pianista com mestrado em Música pela Universidade do Estado de Santa Catarina, atua como músico de câmara e solista, tendo se apresentado em várias cidades do Brasil, além de Buenos Aires, Berlim e Oxford. É professor e, desde abril de 2023, pianista da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo. Em 2016, lançou seu primeiro álbum autoral, Melhor Companhia.
Regente e compositora capixaba de atuação marcante na cena musical brasileira do século XX. Com um legado de cerca de 400 obras para diversas formações, sua trajetória despontou cedo: aos 11 anos participou de seu primeiro recital e, aos 20, estreou um prelúdio sinfônico no Theatro Lyrico do Rio de Janeiro. Nos anos 1930, atingiu o auge da carreira, atuando como pianista, regente e compositora em prestigiados concertos. Entre suas obras de destaque está o poema sinfônico “Chanaan”, inspirado nas narrativas de imigração italiana no Espírito Santo e nas paisagens do Vale do Rio Doce.
Este retrato de Lycia foi tecido com fios de memória e afeto, costurado delicadamente pelas palavras de sua filha Cecília e pelos netos Marcos, Ana e Verônica. Cada lembrança compartilhada comigo, cada cena revivida nas entrevistas, trouxe à tona a alma viva de uma mulher que segue habitando o coração de sua família como música que ecoa, como flor que insiste em nascer.
Lycia era uma pessoa doce, generosa e de grande coração. Era também católica muito religiosa. Além de compor músicas, cultivava com carinho as plantas do jardim. Estava sempre com as mãos ocupadas, ora ao piano, ora escrevendo, rezando, ou entre a terra, semeando sempre beleza.
Ainda adolescente, Lycia emocionou-se tanto com o Concerto nº 4 para piano de Beethoven que levantou-se em plena plateia, tomada por uma força tão irresistível, que só se sentou porque as tias a puxaram de volta. Aliás, o dito concerto é tão magnífico que até a Martha Argerich, escolheu nunca o tocar em público, talvez por excesso de amor à obra.
Aos dezoito anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, mas jamais rompeu com suas origens. Suas composições carregavam a história do Espírito Santo, sua terra natal, para onde sempre retornava. Vitória era mais que uma cidade: era ninho, raiz, afeto. A família De Biase era profundamente unida e sempre celebravam a vida com festas, cantos e canções italianas que perpetuaram pelas gerações.
A pausa nos concertos e apresentações públicas, na década de 30, veio com o casamento com João Baptista Bidart e o nascimento de suas filhas, Cecília e Lucia. Eram outros tempos, outras prioridades. Lycia foi uma mãe amantíssima, a melhor avó do mundo, e nada para ela era mais importante que sua família.
Mas ainda assim, a música permaneceu. João, amante da arte sonora, encantava-se com as obras da esposa. Lycia escrevia por horas, sentada à sua mesinha, enquanto os netos brincavam ao redor, correndo, falando, rindo. Entre uma nota e outra, tomava seu cafezinho fervente, tão quente que o jogava direto na garganta para não queimar a língua.
Nos últimos anos de vida, mesmo sem conseguir ouvir devido à surdez, continuava cercada de sons. A casa seguia viva, com músicos, saraus e melodias que atravessavam o tempo. Porque Lycia era assim: uma presença que ressoa!
Tayná Lorenção
Pianista, Mestre em Artes pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da UFES, com pesquisa dedicada à vida e obra para piano e canto da compositora capixaba Lycia De Biase Bidart (1910 – 1991). Doutoranda em Música, na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Florianópolis.
A compositora capixaba Terezinha Dora Abreu de Carvalho (1936-2017) iniciou seus estudos em música ainda na infância, na cidade de Vitória (ES). Posteriormente, mudou-se para o Rio de Janeiro a fim de dar continuidade a sua formação. Lá, graduou-se na Escola Nacional de Música e, em seguida, se especializou em Harmonia e Morfologia pelo Conservatório Brasileiro de Música. Em meados de 1975, regressou ao Espírito Santo, vindo a lecionar na Escola Estadual de Música do Espírito Santo e na Universidade Federal do Espírito Santo.
Sua trajetória é marcada por um forte engajamento na tarefa de difusão da música capixaba. Exemplificando algumas dentre tantas de suas ações, cabe destacar que ela elaborou o primeiro Programa de Música da UFES, que buscava estimular a pesquisa junto à preservação da música folclórica enquanto patrimônio cultural capixaba. A partir da criação deste programa, viabilizou o surgimento de diversos projetos culturais importantes para a universidade, dentre eles: a “Bandinha Rítmica Infantil”; o “Conjunto Regional Universitário”; o “Grupo dos Chorões”; e o “Coral da Universidade Federal do Espírito Santo”. Elaborou também o “Salão do Compositor Capixaba”, evento com mais de dez edições, em que se oportunizava a divulgação de obras originais de artistas locais de música erudita e popular, a fim de fomentar as atividades de criação musical por artistas naturais de nosso estado.
No âmbito de suas composições próprias, Terezinha Dora é autora de obras para instrumentos diversos – dentre eles, o piano, o canto, as cordas, os metais, os instrumentos de percussão, e muitos outros. Nesse sentido, é possível atribuir a esta compositora a autoria de mais de 50 obras, as quais evidenciam sua versatilidade na criação de peças extremamente sofisticadas, voltadas tanto para instrumentos solo quanto para música de câmara. Entusiasta da música espírito-santense, Terezinha Dora sempre ratificou a importância de valorizar a produção capixaba. Identificando a preciosidade dessa musicalidade regional, seu próprio trabalho composicional referencia temas de festividades populares capixabas – tal como o Congo Capixaba, para o qual elaborou variações. Sua trajetória é extensa e está inscrita na riqueza de suas composições, carregadas de afeto e de sua própria história.
Mestre em Artes pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal do Espírito Santo e formado pelo Curso de Formação Musical da Faculdade de Música do Espírito Santo com Habilitação em Piano Erudito, desenvolve estudos com foco na vida e obra da compositora Terezinha Dora Abreu de Carvalho, tendo atuado na construção da biografia, na elaboração do catálogo de obras, na edição de manuscritos e na gravação de peças da capixaba.
Atua na realização audiovisual, na preservação da memória e na organização e preservação de acervos e histórias. Fez a coordenação geral da organização de dois arquivos audiovisuais: Acervo “Outro Sertão”, para o Museu Judaico de SP, e “Acervo Bergmann”, para o Instituto Marlin Azul (do qual é membro). Este último resultou no lançamento de dois curtas-metragens: “Guarapari Revisitada” e “Vitória Revisitada”, com imagens inéditas e raras das duas cidades, captadas nos anos 60 pelo cineasta amador alemão Ernst Bergmann (1921-2015).
Dirigiu o longa-metragem “Outro Sertão”, prêmio especial do júri no 46º Festival de Brasília, prêmio do público para melhor documentário nacional da 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e os prêmios de melhor filme, direção e uso de arquivo no 13º Festival Internacional de Cinema de Arquivo, entre outros.
Artista visual e pesquisador, doutor em Estética, Filosofia e História das Artes Plásticas e Fotografia pela Universidade Paris 8, na França. Expõe seus trabalhos regularmente, escreve e coordena livros de teoria da fotografia e das imagens no Brasil e no exterior. É membro da Cooperativa de Pesquisa e Criação Retiina. international e do Grupo Retiina.7, na França. Além de participar da direção e do roteiro, fez a direção de fotografia da websérie.
Com
Tayná Lorenção
Cláudio Thompson
Gabriel Guerra
Composição
Lycia de Biase Bidart (1910 – 1991)
Terezinha Dora Abreu de Carvalho (1936 – 2017)
Direção e Roteiro
Adriana Jacobsen e Bruno Zorzal
Produção
Bruna Afonso
Produtora executiva
Adriana Jacobsen
Direção de Fotografia
Bruno Zorzal
Edição
Lucas Bonini
Captação de som
Ricardo Ton (música e entrevista)
Lucas Bonini (aula de piano)
Mixagem de som
Ricardo Ton (música)
Fepaschoal
Câmera
Adriana Jacobsen
Bruno Zorzal
Lucas Bonini
Assistência técnica de iluminação
Luiza Mollulo
Afinação
Lucas Velasque de Oliveira
Gaffer
Chico eletricista
Abertura e Créditos
Silvana Andrade
Acessibilidades
All Dub
Direção Musical
Cláudio Thompson
Músicas
“Nasce uma flor”
Lycia De Biase Bidart (1910 – 1991)
Executada por Tayná Lorenção
Manuscrito autoral disponibilizado pela Biblioteca da ECA-USP
“Britando Pedra no Morro Azul”
Lycia de Biase Bidart (1910 – 1991)
Executada por Tayná Lorenção
Manuscrito autoral disponibilizado pela Biblioteca da ECA-USP
“Chorinho” e “Velha Canção”
Terezinha Dora Abreu de Carvalho (1936 – 2017)
Executadas por Gabriel Guerra
Edição das partituras por Cláudio Thompson
“Minha Santa Catarina”
Terezinha Dora Abreu de Carvalho (1936 – 2017)
Executada por Gabriel Guerra
Edição da partitura por Gabriel Guerra
Equipe Instituto Marlin Azul
Assessoria de Comunicação
Simony Leite Siqueira
Coordenação Administrativa
Patricia Cortes
Programação Visual
Site e Redes Sociais
Silvana Andrade
Coordenação Geral
Beatriz Lindenberg
Gravado na Casa da Música Sônia Cabral – Vitória, Espírito Santo
Setembro de 2024
Agradecimentos
Renan Oaks
Gustavo Louzada
Marina Macambyra
Nicole Garcia
Guilherme Sauerbronn
Agradecimentos especiais
A Marcos Bidart Carneiro de Novaes e à família de Lycia de Biase Bidart
A Tito Carvalho e à família de Terezinha Dora Abreu de Carvalho
As gravações foram realizadas com aprovação prévia dos detentores dos direitos autorais das composições originais
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